Para além das
fronteiras
Francisco Megale nasceu em 22 de fevereiro de 1914, em Viçosa, Minas Gerais.
Em uma época em que ainda não existia mestrado no Brasil, e os professores precisavam ir ao exterior caso quisessem se tornar mestres, Megale ingressou na Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York, para dar início ao seu processo de pós-graduação.
Lá, recebeu orientação e tornou-se uma espécie de discípulo do ícone da patologia reprodutiva: Dr. Kenneth McEntee, primeiro médico veterinário patologista a dedicar sua carreira ao estudo de doenças do sistema reprodutivo.
Neste período de mestrado, Megale integrou uma turma de alunos de todo o mundo, e por consequência fez grandes amizades, dentre elas, vale citar Ingemar Settergren, professor de origem sueca, e mesmo depois do término do mestrado, os dois permaneceram em contato estreito.
Por causa de Megale, a Escola de Veterinária recebeu grande influência da Universidade Cornell. Sem dúvidas as experiências, conhecimentos e tecnologia que trouxe consigo de volta à Belo Horizonte ajudaram a alavancar a academia, para além do âmbito estadual, ao tornar-se nome importantíssimo na área de Reprodução de Bovinos no Brasil como um todo.

fotografia cedida ao Cememor-Vet pela família de Francisco Megale
Visto sua ligação com outros professores do exterior, não é surpresa que ele também tenha trazido consigo um aspecto de intercâmbio interpessoal, que contribuiu com a experiência de seus orientandos, na época em que ele foi professor de mestrado.
Megale chegou, por exemplo, a enviar alguns deles para Estocolmo, na Suécia, para um curso de especialização com Ingemar Settergren, seu antigo colega de mestrado, e outro professor, também seu amigo, Nils Lagerlöf. Os alunos que viveram essa experiência retornaram ao Brasil como especialistas em Reprodução Animal e terminaram a sua orientação aqui, com novos olhares e uma bagagem intelectual ainda mais rica.
Megale assumiu a coordenação do Curso de Pós-Graduação em Reprodução Animal em 1968, quando a Escola de Veterinária implantou seu curso de pós-graduação em Medicina Veterinária, sendo o primeiro curso em nível de mestrado em medicina veterinária do Brasil.
As disciplinas de mestrado que ele oferecia eram muito procuradas. Dentre elas estavam: Inseminação Artificial, Tecnologia de Sêmen e Fisiologia da Reprodução.
Megale chegou a orientar cerca de 24 estudantes de pós-graduação.
Um homem
de grandes
ideias
Uma das ideias inovadoras de Megale, desenvolvida ao lado de seu orientando de mestrado, Rômulo Cerqueira Leite, foi a adaptação do California Mastitis Test (CMT), método que permite o diagnóstico precoce de mastite em vacas, para descobrir a qualidade de fertilidade em sêmen de touros.
Mais uma contribuição à Medicina Veterinária nacional, uma das mais notáveis, foi a endoscopia abdominal em grandes animais. Megale foi o responsável por introduzir tal exame em território brasileiro, graças ao aparelho que trouxe consigo após seu mestrado. Com seu laparoscópio, foram orientadas algumas teses, e Megale veio a tornar-se referência na história da endoscopia do Brasil. O pioneirismo da Escola de Veterinária em tal aspecto é notável quando se diz respeito a um contexto histórico dessa prática.
Sempre muito bem equipado fotograficamente, Megale possuía máquinas de boa qualidade, além de ser um indivíduo notoriamente ligado à imagem. Esta relação é evidente ao se deparar com sua riquíssima coleção de slides, que ele utilizava para dar aulas por volta da década de 70. Fotografias de casos clínicos e registros de experimentos - algumas dessas que ele trouxe do mestrado -, hoje fazem parte do acervo do Centro de Memória da Escola de Veterinária da UFMG, junto a seu laparoscópio.

fotografia cedida ao Cememor-Vet pela família de Francisco Megale